terça-feira, 27 de abril de 2010

A mente sobre a matéria

Minha imaginação é foda. Talvez por isso as vezes me aventuro no campo da ficção, escrevo contos que ninguém lê e imagino outros tantos que nunca vão pro papel. E nessas divagações uma idéia que eu sempre tive quando criança, meio que instintivamente, sem ler nada de metafísica, física e pirações afins, é que nossa mente poderia estar moldando nossa realidade. Odeio pensar que isso seja praticamente a base da maldita "lei da atração" por trás daquele livro de auto-ajuda que vendeu tanto... Por outro lado fico feliz de saber que tive essa idéia antes e era uma criança, o que prova que essa teoria é no mínimo... infantil.

O que me assusta e me faz pensar se eu estou louco ou não (me lembro de cenas do "A Beira da Loucura") é quando paro pra pensar nas coisas que acontecem na minha vida que coincidentemente ou não, refletem coisas que sempre desejei nos meus íntimos pensamentos. Vamos para um exemplo concreto: a Nova Zelândia. Quando era moleque, durante toda a adolescência e até o começo da minha vida adulta, eu tinha fantasias de um mundo ideal. Nesse mundo ideal, haveriam pouquíssimas pessoas - porque não gosto de pessoas -; o tempo seria frio sempre, mesmo que houvesse sol e dias lindos; eu me imaginava sempre sozinho, pois me amargurei com algumas decepções amorosas intensificadas pelos hormônios e todos lugares seriam bonitos, inspiradores. Esse lugar era meu paraíso, minha fuga da realidade, onde me esconderia e seria feliz. Até uma catedral gótica com pesadas portas vermelhas eu imaginava. Esse lugar não existia.

Ao mesmo tempo, durante anos, sempre procurei pessoas que gostassem das mesmas coisas peculiares que eu gosto. Eu sempre gostei de Tool, mas eu moro no Brasil. No Brasil, se você conhece alguém que gosta de rock já é uma maravilha. Se você conhece alguém que gosta de Tool, você ganhou na loteria. E eu ouvia Tool sozinho, assim como outras bandas esquisitas que só eu curtia.

Por fim, eu queria ter uma banda bacana. Com meus amigos. Uma banda desencanada porém divertida, na qual eu pudesse me expressar, fazer sons próprios e tal. E nunca rolou no Brasil. Tive bandas boas, mas sempre "covers". Meus amigos nunca tinham auto-confiança suficiente ou não confiavam em mim o bastante prá arriscar a criação. Dentro de mim ficava a vontade...
Um dia eu achei que minha vida no Brasil tava tão merda, que eu resolvi ir pra outro lugar. Qualquer lugar. Ninguém embarcava nos meus sonhos, e nada mudava. Eu me sentia miserável e não via saída, pra quem tá na merda, qualquer lugar é lucro. "Vou fazer doutorado fora." "Nova Zelândia? É, pode ser."

Não conhecia nada nem ninguém. Vamo lá. E simplesmente a Nova Zelândia era um lugar lindo, inspirador e solitário. Pouquíssimas pessoas. A cidade onde morei, chamada Christchurch, tem uma linda catedral gótica no centro, com portas vermelhas. A galerinha de lá ouve Tool até em churrascos. Montei facilmente uma banda com amigos inesquecíveis, que só fazia som próprio, não se preocupava com nada e era fonte de muita diversão. Tocávamos de tudo, mas principalmente stoner rock. Stoner rock é um ramo não tão popular do rock, que eu sempre amei, e de cara conheci um alemão que amava do mesmo jeito. Ele virou meu amigo e o outro guitarrista da banda. Lá eu comecei meu doutorado em Realidade Aumentada, num lab com gente super bacana, com projetos super loucos, que me aceitaram como amigo de cara e me arranjaram dinheiro - em forma de bolsa - na base da pura e simples confiança. Um mundo ideal pro Bart!

O problema é que um mundo ideal pra cabecinha limitada do Bart, supondo que tivesse sido criado pela mente do Bart, também seria limitado. Ele nunca pensou que sentiria saudades, encheria o saco de ficar sozinho, que não tivesse mais medo de se decepcionar amorosamente, que um ambiente lindo a toda hora torna-se depressivo se não há envolvimento emocional com nada. Que o próprio Bart mudaria, e o que era perfeito antes, não era mais agora. Não, da banda e amigos não tenho nada a reclamar. Nem da catedral de portas vermelhas.

O que a mente do Bart não previu é que ele mudaria, e que aquele sonho ia acabar virando um pesadelo. Como no filme Matrix, quando o Agente Smith diz para Morpheus que a primeira Matrix era um cenário perfeito para as pessoas e por isso mesmo 90% delas a rejeitava.

De um jeito ou de outro, isso é assustador e a minha lição foi: pare de idealizar. Aceite o que vier, faça o melhor dele. Nada vai estar bom mesmo, a gente continua mudando e bla-bla-bla. Fica assim então... Vou mudar minhas idéias mais rapidamente do que minha mente possa moldar a minha realidade, just in case...


2 comentários:

Unknown disse...

por isso não saí daqui!
:D

Alfie disse...

que fique claro, nao me arrependi!