quarta-feira, 5 de maio de 2010

Outono

Outono é um termo interessante em inglês. Autumn não, Fall. Fall é outono e também é o verbo cair. Além disso, você pode "fall in love", se apaixonar. Tantos significados e no fim viram quase sinônimos. Eu costumava a me apaixonar no outono. É uma época de dias lindos, ensolarados mas com um ventinho frio no fim da tarde. Noites de céu limpo, mas friozinhas. A temperatura mais amena, a ausência do calorzão do capeta ao qual a gente é exposto quase durante todo o ano, permite a nos aprofundar em algumas coisas, como por exemplo, sentimentos amorosos. Eu associo o nosso calorzão às necessidades instintivas, imediatas e emergenciais. Ao agudo da sede, a movimentação desenfreada de partículas que não deixa as pessoas pensarem, à ânsia de sair e consumir algo ou alguém, e no fim, fica-se superficialmente satisfeito. O outono, como o prelúdio do frio, a breve estação em que um cobertor de orelha é desejada, impulsiona o contrário. Você não está correndo atrás de algo por instinto, mas porque quer.
Não se trata apenas de querer, o mundo parece se tornar um cenário mais propício para que isso ocorra (mesmo porque apaixona-se sem saber, não há decisão consciente no processo). Com as cores esmaecendo, as folhas caindo, as sombras mais alongadas, o vento soprando mais forte, o mundo desacelera. Você repara naqueles cabelos esvoaçando em câmera lenta. Em como ela tira-os do rosto e olha de lado. De como ela fica bem com aquela blusa que não parece o bastante para proteger do frio que se intensifica cada vez mais. Do sol ofuscante mas que é insuficiente para esquentar o fim da tarde, te cegando quando você abre os olhos depois de um abraço do qual não queria sair. E assim você se apaixona.
Depois de ter mais de 30 outonos na sua vida você começa a sentir o peso de todos eles, das vezes que você se apaixonou, das vezes que você caiu.... E inevitavelmente pode se sentir quebrado por ter caído tanto, mesmo que não se arrependa. Ou mesmo sentir falta daquela pessoa que te derrubou de verdade e você nunca se recuperou. Os novos outonos só te fazem lembrar daquele em específico. Lembrar que você não se levantou mais. Como foi lindo se soltar, se deixar levar ao vento, em movimentos erráticos, perder-se e ficar lá estirado no meio dos outros, deixando a luz do sol bater, não esperando mais nada.
Publico isso quebrado fisicamente, com um futuro incerto em todos os aspectos, então não me levantarei. Nem vou tentar. Ficarei curtindo o meu outono.

2 comentários:

Mariana Machado Hirche disse...

Só falta se apaixonar...

Lígia disse...

eu amo seus textos..